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O inquisidor no prelúdio dos dias
/ the inquisitor in the prelude of days

video, 9’, 4K, 16:9, Colour, Sound
2023

[Photos by Rui Mota]

On a day so simple, we feel so secure, so full of ourselves, so certain of everything, that we even walk with our arms swinging; but on the next, the frown wakes up before us, the words are swallowed by so many questions, so much to put into question, that all that's left is to walk with our arms crossed. It's funny how we're always the "us," the same "us," in the same routine walk of those who don't realize they're walking hand in hand with the illustrious thoughts of existence. A curious recognition, of someone who would never resemble the nonagenarian invented by the Karamazovs, who continues with questions of empty answers weighing on his head, while his heart burns from the received kiss. When has anything similar been seen? Or event better, how did we not see it? Who knows if the insignificance of existing, which screams its questions to the heavens, will one day meet the brilliant impression of being the great inquisitor. Who knows if in the insignificance of a day, it happens to rain so much and the leaves become so wet that the terrestrial mollusk decides to come out to crawl, and leave the trail of its daily questions around. Who knows after all if this is not an insignificance. Who knows, maybe the grace is in giving space and placing oneself for now as the inquisitor of the days here. Until the burning kiss satisfies more than an answer given. Even if we are already all so old.
   


[Installation view at Praxis / Deixis exhibition. Museu FBAUP, Porto, PT - 2023]
[video still]




Em um dia tão simples, nos sentimos tão seguros, tão cheios de nós, tão certos de tudo, até andamos de braços a abanar; no outro, o cenho acorda antes de nós, as palavras se engolem do tanto a perguntar, do tanto a por em cheque, que o que nos resta é andar de braços a cruzar. É engraçado sermos sempre o nós, o mesmo nós, no mesmo caminhar rotineiro de quem não percebe que está a andar de mãos dadas com os ilustres pensamentos da existência. Da nossa. Um reconhecer curioso, de quem jamais se assemelharia ao nonagenário inventado por Karamázovs, que segue com as perguntas de resposta vazia a pesar-lhe a cabeça, enquanto queima-lhe o coração pelo beijo recebido. Quando é que se viu coisa semelhante? ou melhor, como é que não vimos isso? Quem sabe se a insignificância do existir, que grita suas perguntas às alturas, um dia se encontra com a brilhante impressão de ser o tal grande inquisidor. Quem sabe se na insignificância de um dia calhar de chover tanto e de as folhas umidecer até que o molusco terrestre resolva sair pra rastejar, e deixe o rastro de suas questões diárias por ai. Quem sabe afinal isso não seja uma insignificância. Quem sabe a graça esta em dar espaço e se colocar por enquanto como inquisidor dos dias aqui. Até que o beijo ardente sacie mais que uma resposta dada. Mesmo que já estejamos todos tão velhos.